Criando Crianças Financeiramente Responsáveis

Como professor de finanças, eu passei anos interagindo com homens e mulheres de diferentes idades e identidades profissionais, ajudando-os a navegar pelas complexidades dos mercados financeiros, bem como esclarecendo as idiossincrasias do processo de investimento.

Um elemento que me impressionou foi a recorrente falta de compreensão dos fundamentos básicos de instrução financeira. Enquanto muitos tinham algum nível de conhecimento técnico, muitas vezes eles não tinham uma compreensão sensível da estrutura que leva a boas decisões financeiras de longo prazo; um problema aparentemente ignorado desde os primeiros anos de sua jornada educacional geral.

A importância da instrução financeira em uma idade adiantada ressoou em mim ainda mais quando eu trabalhava no desenvolvimento de módulos educacionais, ao ajudar famílias ricas a treinar as novas gerações para lidar com as responsabilidades de uma herança significativa. E enquanto as famílias muito ricas enfrentam, indubitavelmente, alguns problemas peculiares, o quadro de nossos módulos parecia aplicável à maioria das famílias interessadas em criar filhos financeiramente responsáveis.

O primeiro item do debate é sobre quando começar uma educação financeira. Eu penso que, em algum nível de clareza, nunca é cedo demais. Naturalmente, o processo precisa levar em consideração a capacidade cognitiva da criança em relação à sua idade, contudo, um início precoce parece sempre vantajoso.

Muitos jovens parecem não ter um bom entendimento sobre o que realmente é o dinheiro. Na verdade, há uma impressionante relação inversa entre a riqueza da família e a compreensão da próxima geração sobre o que o dinheiro é.

Ao trabalhar com as crianças desde cedo, nutrindo um entendimento do valor do dinheiro, os pais envolvidos os ajudam a desenvolver uma habilidade futura de gerenciamento correto. Iniciar um programa de mesada bem cedo na vida de uma criança deve definir as bases certas para sua compreensão dos três aspectos da gestão financeira: gastos, economias e investimentos.

Um programa de mesada pode ser usado como uma ferramenta para melhorar a disciplina e a tomada de decisão, pois a criança terá agora que lidar com limitações e parâmetros. O programa também pode ser modificado conforme mudarem as contingências; por exemplo, o tamanho do fluxo de caixa deve ser sistematicamente aumentado para melhorar a capacidade das crianças de gerir seus fundos durante longos períodos de tempo.

O próximo passo deve envolver treinar a criança no processo de orçamento. Integrar a gestão da mesada com a elaboração de orçamentos pode ser um coquetel poderoso na educação financeira de seus filhos.

A primeira ação que tomamos quando começamos a trabalhar com qualquer cliente é exigir que trabalhem com um orçamento muito detalhado. Este passo ocorre independentemente do nível de riqueza do cliente; "amnésia" orçamentária é, infelizmente, um sintoma muito comum. Isto é compreensível, pois a elaboração de orçamento pode ser algo tedioso já que, independentemente de sua riqueza, ele cria limitações. É por isso que uma disciplina orçamentária deve ser reforçada desde cedo para as crianças.

Quando os pequenos crescerem, mais oportunidades de ensino se tornarão disponíveis. Fazer as crianças familiarizarem-se com o sistema bancário e contas bancárias é um ponto de partida óbvio. Isto pode ser seguido por um programa de investimento. Neste caso, a criança pode ser exposta aos meandros do mercado de capitais através da abertura de uma conta de corretagem ou, pelo menos, por uma simulação de investimento em ações.

A exposição a mercados de capitais também reforça o espírito de empreendedorismo. Embora nem todos sejam feitos para o empreendedorismo, o senso de responsabilidade e capacitação do comando de um negócio - mesmo sendo apenas uma banca de limonada - pode ter uma influência positiva inestimável de longo prazo.

Neste momento, algumas famílias com recursos vão além e criam um "banco da família", destinado a financiar projetos bem pensados e bem apresentados propostos pelas crianças. Naturalmente, a grande riqueza da família pode facilitar este processo, mas o quadro pode ser reduzido e utilizado em diferentes níveis econômicos.

Outra ferramenta interessante para a gestão financeira educacional é engajar nossas crianças em projetos de caridade. Escolher uma causa e dedicar tempo e alguns recursos financeiros pode ter um efeito muito positivo na habilidade da criança de reforçar a conexão entre recursos escassos, esforço, prioridade e resultados.

Uma palavra de cautela antes de embarcar nesta jornada educacional vem do psicólogo Lee Hausner, autor do livro "Filhos do Paraíso". Dr. Hausner aconselha os pais a terem um momento como um primeiro passo para examinar sua própria atitude e comportamentos em relação ao dinheiro. O dinheiro pode ser e significar coisas muito diferentes para pessoas diferentes, e a forma como o operamos pode ter grande influência no que ensinamos a nossas crianças. É imperativo que nós como pais façamos o que dizemos que faremos, e que nossas mensagens sejam claras e saudáveis. Dr. Hausner sugere que marido e mulher iniciem um processo de autodescoberta, onde cada um faça perguntas diretas sobre seus modelos financeiros do passado e do presente. Esta ação deve melhorar a convergência de intenções entre os dois pais, e deve ajudar a limpar as atitudes em relação ao dinheiro, que pode ter começado poluída ao longo dos anos por experiências passadas ou ensinamentos errados.

Dr. Hausner também salienta os resultados de muitos estudos que apontam para dois elementos principais como pilares de uma vida plena: amor e trabalho significativo.

Lamentavelmente, na Thalassa Capital não estamos qualificados para aconselhar sobre o amor, mas acreditamos que o auto-respeito e disciplina que virão naturalmente para uma criança adequadamente treinada em questões financeiras pode também ajudar a fortalecer mais relacionamentos amorosos com os outros. Em um trabalho significativo, estamos novamente em completo acordo com os estudos mencionados. De uma perspectiva de instrução financeira, os pais devem enfatizar a importância de buscar um sentido através de um trabalho e, simultaneamente, salientar a ligação entre trabalho e dinheiro. O relacionamento mutuamente benéfico entre fazer algo que eles amam e a remuneração que vem disso deve percorrer um longo caminho para melhorar a felicidade dos nossos filhos.

Fontes:

-        Hausner, Lee, “Children of Paradise”

-        Godfrey, Jolene, “Raising Financially Fit Kids”

-        Kobliner, Beth, “Get a Financial Life in Your Twenties and Thirties”

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