Foco no Brasil

“Você não se afoga caindo em um rio, mas permanecendo submerso nele.”

Paulo Coelho

Ano passado, o desempenho da seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo sediada em casa carrega muitas das características do desempenho econômico deste país: expectativas grandes, alguns vislumbres de samba e ainda uma falha macroscópica perto do fim.

A economia e os mercados financeiros do Brasil eram os preferidos de investidores pelos quinze últimos anos; era duro resistir a um país dotado de tantas terras ensolaradas, de recursos naturais e povo amável e divertido. Muitos especialistas foram rápidos em destituir os erros do passado, como as crises cambiais recorrentes ou a falta de infraestruturas – físicas e sociais – chamando esta década de nova era.

Infelizmente, em algum lugar na estrada para “El Dorado,” a jornada ficou difícil. Uma desaceleração global de commodities mostrou uma dependência antiga do país no ciclo de materiais básicos e a administração da presidente Rousseff foi menos que brilhante na tomada de decisões econômicas.

As projeções econômicas para 2015 são tampouco brilhantes. A inflação é vista elevando o nível do alcance oficial em 6,99% e o crescimento do PIB é estimado em apenas 0,13%. Estas estatísticas indicam estagflação, um resultado econômico muito temido.

Uma das questões que o Brasil está enfrentando tem a ver com sua falta de abertura. Um relatório recente feito por Canuto, Fleischhaker e Schellekens do Banco Mundial destaca apenas quão estranhamente fechada é a economia brasileira. As exportações mais importações somaram apenas 27,6% do PIB em 2013. O tamanho do país é usado frequentemente como uma explicação para sua relativa estagnação; entretanto, nos seis países com economias maiores que o Brasil, a proporção média do comércio em relação ao PIB é de 55%.

O relatório segue destacando uma falta significativa de dinamismo do comércio em nível corporativo. O número de companhias exportando no Brasil está abaixo de 20.000, o mesmo que a Noruega, um país de apenas 5 milhões de pessoas. Fora deste lote de 20.000, apenas algumas empresas são responsáveis pela maior fatia das exportações brasileiras. Canuto e os outros relatam que os top 1% de exportadores geram 59% das exportações totais. Além disso, os top 25% dos exportadores controlam 98% dos rendimentos de exportações. Este oligopólio sufoca o dinamismo empresarial, fato confirmado por baixas taxas de entrada; poucas novas empresas entram para o clube, e exportadores já estabelecidos retêm uma elevada taxa de sobrevivência.

Esta situação reflete a integração pobre nas cadeias de valor transnacional. A maioria das exportações brasileiras incorporam alguns componentes e bens intermediários importados de outros países. Canuto e os outros apontam para diferentes fatores para explicar esta falta de integração na cadeia de valor global: fatores como logística precária, alto custo de transações relacionadas ao comércio internacional, e por último, mas não menos importante, as decisões de políticas para favorecer o conteúdo local em vez da integração internacional.

As soluções para esta ineficiente cadeia de valor precisam ir além da desvalorização da moeda, como o problema foi geralmente tratado no passado. Uma reforma dos processos da cadeia de valor é necessária; os segmentos não competitivos da produção devem ser reestruturados e os segmentos intermediários devem ser abertos à integração internacional. O Brasil deve se afastar da pressão feita por cadeias de fornecimento verticalizadas abrigadas por barreiras protecionistas e abraçar cadeias globais de valor, onde suas vantagens comparativas possam ser aproveitadas (recursos naturais, processos de fabricação e serviços específicos selecionados).

Este processo de abertura deve começar com um reacender da faísca com investidores internacionais. Alguns sinais positivos podem ser decorrentes; um relatório do Citi mostra como o fluxo dos clientes do banco foi positivo este mês, depois de ser fortemente negativo em dezembro. O colapso dos fluxos monetários mostra os reais investidores de dinheiro (fundos de pensão e outras instituições) com fluxos positivos para o Brasil, enquanto os investidores endividados (fundos especulativos) continuam negativos.

O dilema para os investidores, locais e internacionais, continua a ser a moeda. Embora, conforme dito anteriormente, uma mudança de atitude de longo prazo da economia brasileira não pode depender exclusivamente de uma desvalorização do Real, é claro que um reajuste de preço relativo da moeda vai continuar. É certo que a correção do Real pode ter sido abrigada até agora pelo carry trade que provavelmente colocou um limite na fraqueza do BRL, no entanto, a maioria dos analistas esperam mais fraquezas, e vimos alvos em BRL3/USD.

No nível micro, as companhias brasileiras parecem começar a responder às ameaças macro. As despesas de capital estão focadas na redução de custos e na melhoria da competitividade. Adicionalmente, uma pesquisa da JP Morgan revela que mais companhias locais estão planejando ter uma exposição maior fora do Brasil.. Na verdade, a parcela de despesas de capital dedicada apenas ao mercado interno é direcionada a diminuir em 2015 para 38,3% do orçamento, contra os 44% do ano passado.

Concluindo, a visão estratégica sobre o Brasil continua, na melhor das hipóteses, neutra. Demasiada incerteza macro e confusão política torna desequilibrada uma aposta de investimento. A tendência FX também é uma forte oposição que a partir de uma perspectiva internacional é difícil de compensar. Tempos melhores certamente virão, mas ainda temos um longo caminho pela frente.